Apologia da História ou o ofício de historiador - Marc Bloch.

12/05/2017

Marc Léopold Benjamim Bloch - (1886-1944).

Filho de Gustave Bloch, que foi professor de história na Sorbonne, Marc Bloch dirigiu, a partir de 1919, as conferências sobre Idade Média na Faculdade de Strasbourg. Em 1936 passou a lecionar história econômica na Sorbonne.

Interessado em questões econômicas e sociais, Marc Bloch funda, em 1929, com Lucien Febvre, os Annales d'Histoire Économique et Sociale (Anais de História Econômica e Social), de importante papel na difusão daqueles estudos. 

Durante a ocupação nazista, Marc Bloch entrou para a Resistência francesa e fez parte do comitê diretor do órgão Franc-tireur (Franco-atirador). Detido e torturado pela Gestapo, foi fuzilado perto de Lyon, em 16 de junho de 1944. 

Na fase final da vida escreveu "Apologia da História", que deixou inacabada, devido à sua morte. 

           "Apologia da história ou ofício de historiador" de Marc Bloch. 

Apresentação.:

O livro é considerado uma obra prima da historiografia, ela nos apresenta várias concepções da escola dos Annales, exemplos de tratamento de documentos, de reflexão filosófica, de uma análise crítica dos testemunhos e principalmente de erudição e interdisciplinaridade que o historiador deve utilizar dentro de um trabalho historiográfico. Marc Bloch é muito comum por repensar o tempo dentro de um trabalho, e nesse livro não é diferente. Bloch investe em uma história como problema, ele foi uma espécie de fundador da antropologia histórica, ficando muito conhecido por nos apresentar períodos históricos mais alargados, de longa duração e que se modificam de forma mais lenta. A partir da página 15, temos o prefácio escrito pelo medievalista francês Jacques Le Goff, ele nos apresenta uma proposta de análise dentro de um contexto geral da obra, fazendo um panorama sobre os conceitos apresentados durante toda a vida de Bloch. A preocupação da obra e nos apresentar o historiador como um homem de um ofício, o que segundo Le Goff, aparenta delimitar as distancias do trabalho do historiados dos demais profissionais das ciências humanas. O historiador tem seus métodos e práticas de trabalhos, que lhes são próprias, daí ele delimita seu objeto de estudo. O ponto de partida para que Marc Bloch tem é um questionamento de seu filho, onde perguntava para que serve a história, dessa premissa ele começa a problematizar o objeto que o historiador produz. A obrigação do historiador é difundir e explicar aos doutores e aos estudantes. A história passou por diferentes processos de legitimidade, o problema não é só epistemológico, mais sim de dever cívico e moral. Sua fonte principal reside na memória, ela é uma das principais matérias primas da história, um fenômeno que não é apenas constatado. Os dois fenômenos mencionados por Le Goff são, o caráter da duração; matéria concreta do tempo, e a aventura; forma individual e coletiva da vida dos homens. Sua preocupação agora, passa na questão da história e sua observação, os historiadores necessitam ser vigilantes, pois senão a história "náufraga no descrédito", ele resalta o papel alemão, que se serviu da história para elevar o moral de seus cidadãos em períodos de dificuldade. Os dois elementos apresentados e que diferem entre si são, a ciência histórica; que é um fenômeno submetido às condições da história, a história que coexiste com a vida humana. A esteticidade da história é aquilo que o autor apela para que não seja esquecida pela comunidade acadêmica, na questão de que a história deve se inspirar nas técnicas dos poetas, que constroem suas histórias de forma tão brilhante. No prefácio Le Goff fala sobre Bloch, no que diz respeito à crítica ao positivismo. Ele diz que Bloch ainda crítica ferrenhamente o seu antigo professor Charles Seignobos, reconhece seu brilhantismo e sua procura por métodos objetivos, mas qualifica como "um horror" essa história da escola positivista tão propagada por ele. O fato histórico não é um fato positivo, o que estabelece a cientificidade da história é o método do historiador e não o simples conjunto de leis classificatórias e dentre essa linha historiográfica Le Goff reafirma questões pontuais da obra como, a influência da sociologia de Durkheim; o apelo a especificidade nos trabalhos, onde o tempo da história escapa a uniformidade; a interdisciplinaridade; a complexidade dos fatos humanos; a investigação da memória coletiva. Bloch prefere o "momento" que é o que conhecemos por "acontecimento", ele fala sobre a análise histórica, ela deve compreender ao invés de julgar. O prefácio é bastante esclarecedor, pois nos apresenta conceitos como; análise psicológica do individuo e do testemunho, crítica interna e externa do documento e a problematização do fazer histórico. A temática de boa parte do prefácio se da em torno da última frase do livro: "Causas não são postuladas, são buscadas." Na introdução do livro, explica pequenos adendos antes de adentrar nos conceitos. Sob o questionamento de seu filho Bloch começa na introdução a se debruçar sobre um campo vasto, o campo da natureza da história e o ofício do historiador. Logo no início ele critica a ideia de história narrativa, postuladas por seus mestres, Langlois e Seignobos em "Introdução aos estudos históricos". Ele trabalha o conceito de historiografia, analisando as culturas antigas, em especial a cultura cristã. Os aspectos historiográficos pairam entre nuances da psicologia de grupos, alertando sobre o papel da explicação ele diz: "A história mal entendida é capaz de arrastar para o descrédito a história bem entendida." Uma importante bandeira levantada é a da interdisciplinaridade, ele cita Alexandre Dumas como um belo exemplo literário em que o historiador deveria olhar, Dumas é visto por Bloch, como "um historiador em potencial". O autor fala sobre a questão estética da história. A fascinação provocada pelo conhecimento no tempo torna a história um ofício, uma arte. Condenando a erudição positivista, ele fala da história como ciência que tira um pouco de sua poesia, se preocupa com esse caráter cientifico, pois para ele, as únicas ciências autenticas são aquelas que conseguem estabelecer ligações explicativas entre os fenômenos. A história e sua legitimidade intelectual perante as demais ciências não tem um modelo enumerativo e limitante. A história é uma coisa em movimento e tem como objetivo o espírito humano, no campo do conhecimento racional. Chegando a um ponto crucial do conceito de cientificidade, aquela instituídas sobre as bases Comtianas da escola metódica, Bloch crítica veementemente a rigidez da visão positivista da história-ciência, que negava as possibilidades da história levando ao que conhece por "historizante". Por fim, ele crítica e reconhece à sociologia de Durkheim, a crítica está no desdém ao tempo dentro das análises sociais, e reconhece o seu fator nas análises psicológicas da sociedade. O ofício do historiador está em refletir e não buscar um modelo uniforme de conhecimento, assim como fazem as ciências da natureza. No primeiro capítulo, A história, os homens e o tempo; Bloch faz uma pequena análise antes de adentrar nos conceitos principais desta parte. Apresentando a difícil tarefa da definição de um objeto de estudo e em meio as dificuldades que o historiador encontra tem se a questão do passado. Ao afirmar que a história não é uma ciência do passado, o autor nos mostra que a historiografia não se limita a pensar a natureza da cientificidade da história como sendo apenas o passado como o seu objeto principal de estudo. A tradição linguística preserva as "historias", é necessário uma diferenciação da história dos historiadores de histórias de homens. Na divisão de tarefas é importante salientar os vários questionamentos postulados, daí Bloch tira um exemplo de um geólogo ao questionar a natureza de seu trabalho (página 55). Em suma ele reafirma o papel da erudição e da interdisciplinaridade. Os diversos atos do homem, são resultado de necessidades coletivas e que apenas, uma certa estrutura social torna possíveis. O fato histórico é obra de uma sociedade, e se dá segundo as suas necessidades. O objeto da história é por natureza o homem, são os homens que a história quer capturar. Bloch afirma que o bom historiador é como um ogro da lenda que fareja a sua caça.

Rede de informações, divulgação e materiais sobre História e Ciências auxiliares. 
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora